CARTAS DE AMOR 019

Caríssimo
Aceitar a distância que nos separa está a cada dia mais difícil. Vem-me todas as horas a lembrança de teu corpo maduro, de teu gosto de fruto pronto a se colher... Ah, todos os dias ouço em meu coração teu nome_ tão perto de mim, tão no caminho de meus desejos
Sei que estou com um anseio infinito de te ver... de me encontrar em teus braços. Como não sonhar? (Tu me disseste que o impossível acontece...) Este anseio me arranca de um mormaço a que falto me entregar todos os dias... Talvez eu esteja entre o sonho e a realidade; invento um mundo onde posso te encontrar, mas é este mar imenso que nos separa
Estou em águas de enchentes. Sinto-me meio submersa entre o que vivemos e o presente _ o que ficou foram nossos momentos de amor. Deito meus olhos até onde os sonhos alcançam, até onde a esperança vive... Que mal há em sonhar
Sonham os homens todos os dias. Esperam, mesmo os pequeninos, por um amor inesquecível. Vozes de crianças cantam a esperança; meninos e meninas brincam mesmo que esteja chovendo... Por que não posso guardar o que sinto por ti para sempre
Quando olho para o tempo, é setembro. Ah, se me dessem o passado de volta, viveria tudo de novo! Sirvo-me, há quase um ano, do que me lembro: Beijavas meus seios tais frutos bem deliciosos! E comias em vez de popa, de lábios morenos! E tudo, tudo tinha motivo para mais beijos
E não há dia em que não te sinta dentro de mim: do olhar a flores nos campos ou às aves que cruzam o firmamento. E tudo isso é amor. De qualquer que seja a realidade. De um coração de mulher ou da natureza
E sei... há um barco nalgum lugar esperando por nós... Depois de uma enseada, quando entardecer, até que me acabem os dias... Nalgum lugar há de se juntar a alma minha à tua