CARTAS DE AMOR 016

Caríssimo

O silêncio. Não gosto deste silêncio teu. Soa como estar esperando por algo que não vem, que não tive... Ah, tenho medo de o silêncio durar uma vida. E tapo os olhos para não ver o que me sugere teu silêncio
Mas mudemos de assunto. Sabe, tenho dado ultimamente a andar como um autônomo. As folhas passam pelas calçadas levadas pelo vento. Vez em quando sinto que ele me leva e vou. Não há perfume por onde passo. Sinto o enfraquecer da tarde no fim de novembro. E sou apenas um ser que passa, sem sentir o sangue do sol (meu corpo está adormecido) alegre do Nordeste
Confesso que me assusto. Toda a minha vida eu fugi do vento, pois ele parecia ler meus pensamentos. Coisa de quem vive trancada num mundo interior. Acho mesmo que devia era ser folha. Eu podia sair por aí... numa animação de quem voa sem ter asas.
Engraçado é que estou o tempo todo a procurar de me lembrar de uma coisa que me aconteceu quando eu era criança. Sei que era verão. Como hoje. Eu subi numa árvore e estendi os braços. Eu procurava uma corrente de vento forte e ela não veio. Estava tudo tão quieto... (lê bem baixinho: Era como este teu silêncio). As folhas até caíam bailando ao chão, mansamente, mansamente. Que podia eu fazer na ocasião Desci da árvore e voltei triste para casa. E... eu não quero desistir de ti
São quase dezoito horas. Agora o sol já se foi descorado... Como se estivesse debaixo de alguns pensamentos tristes. Isso é curioso... Eu jurava que ele estava a rir... procurando me chamar para um pouco de calor! Bem, eu podia aproveitar a noite chegando e ir olhar se tem luar